Infelizmente, os países de cultura surgente estão sujeitos a todos os tipos de ações nem sempre movidas pelo bom senso e pela coerência. São países culturalmente infantis, pois ainda estão na fase adâmica, o que nos faz lembrar a melancólica exclamação do filósofo vitalista espanhol Ortega y Gasset (1883-1955) ao referir-se aos países latino-americanos, numa de suas memoráveis conferências no Atheneu de Madri: "Pobres daqueles países de eternas auroras!" O que vale dizer: estão sempre começando e nunca chegam ao zênite, enquanto os seus cidadãos agem como crianças e cometem os maiores desatinos. Vou dar-lhes um péssimo exemplo, a fim de confirmar a minha assertiva: Hermes Fontes (1888-1930), grande poeta sergipano, um dos precursores do modernismo literário brasileiro, nasceu em Buquin - a cidade das laranjas - e dela nunca se esqueceu. Pois bem: na praça que há muito tempo vem ostentando o seu nome, fora colocado, por sugestão e insistência de pessoas bem esclarecidas, um busto de solidária homenagem àquele poeta - no qual, comovido e feliz - li há muitos anos a gravação de uma bela estrofe de sua magistral obra "A fonte da mata" (1930): "Só os que têm amado e sofrido e quanto mais sofrido, mais amado, podem mostrar no coração ferido o seu altar... o seu apostolado..."

Pois não é que, no ano de 1974, um prefeito doidivana, iconoclasta, raivoso e neocoronelista, mandou derrubar aquele monumento e, no seu lugar, colocou uma pedra, fria e muda pedra, como se ela fosse uma verdadeira lápide de cemitério. Foi, então, que eu logo me lembrei do poema drummondiano:

"No meio do caminho linha uma pedra" (1930).

Neste caso, a pedra é a burrice administrativa de quem só tem a própria burrice para oferecer. O Brasil conta com 5.564 (cinco mil quinhentos sessenta e quatro) municípios e quando teremos um amplo, vertical, minucioso e dinâmico Plano Nacional de Cultura que seja capaz de atingir todos prefeitos e vereadores do nosso País, a fim de que eles sejam mais eficientes e não pratiquem tantos desmandos e crimes como aquele que acabamos de registrar? Evidentemente, dentre tantos administradores públicos municipais e respectivos edis, ainda existem homens de bem e equilibrados. Qual é o seu percentual? Só sabemos que o número daqueles anticidadãos envolvidos na administração pública, nem sempre compreendem a sua responsabilidade de homens públicos. Apesar de seus 120 (cento e vinte anos) de regime republicano, o nosso país ainda não descobriu uma fórmula de evitar, definitivamente, toda os desmandos e erros que se praticam pelo Brasil a fora!